Quando em novembro de 1975 Angola se viu livre do jugo português e ao mesmo tempo via seu povo vítima da guerra fratricida das tres facções que então buscavam hegemonia no novo horizonte - MPLA, de Agostinho Netto, FNLA, do pioneiro Holden Roberto e a Unita de Jonas Savimbi, em batalhas que se estenderam até a década de 90, Cabinda e seu povo pouco teriam a comemorar.
Parte do antigo Reino do Povos do Congo, Cabinda é um enclave do norte de Angola, encrustrado no território da República Democrática de Congo(ex-Zaire) e com froteira ao norte com o Congo Brazzaville. Pelo tratado de Simulambuco em 1885 os reis e príncipes de Cabinda se submeteram à tutela de Portugal.
Assim, Cabinda sempre foi um povo e território apartado de Angola, com o qual só partilha um pouco da língua colonial. Apenas em 1957 Portugal unifica as administrações de Angola e Cabinda, por questões econômicas e administrativas. Por essa época Holden Roberto já havia fundado a sua FNLA e dava os primeiros passos internacionais na formação do governo livre angolano no exílio. Mais tarde ele perderia a corrida para o MPLA e a Unita. Mas sempre teve o apoio dos governos francófonos da região, os dois Congos.
Em 1975 Cabinda troca Portugal por Angola como potência colonizadora. Agora o petróleo já tinha sua importância e o enclave se tornaria então a 18a. província da RPA.
As jazidas de ouro negro sempre estiveram por trás do apoio tácito dos Congos aos cabindas. Mobutu a considerava parte do território do então Zaire. De fato, a identidade cultural dos nativos está mais próxima ao Congo que a Angola. Mas o olho nas riquezas do enclave fala mais alto.
A Flec-Frente de Libertação do Enclave de Cabina é fundado em 1963, com a fusão dos tres movimentos existentes até então. Permanece no campo diplomático até a independência angolana, pois nutria a esperança de que Portugal conduziria o processo de forma que não precisasse entrar numa guerra que sabidamente os cabindas jamais venceriam, visto que a sua exígua população (hoje de 300 mil habs.) não suportaria. E se isso valia contra os portugueses o mesmo se pode dizer em relação à Angola. Entretanto, o fracasso das diplomacias e o silêncio das grandes potências, levou a Flec, com apoio dos Congos e base intelectual em Paris, a incrementar a luta armada.
Trata-se de uma luta tímida mas renitente, travada corpo-a-corpo ou em emboscadas no interior do enclave, nas florestas ou nos pântanos. Mas a população mais uma vez e sempre á a grande vítima. De um lado, sofre com seus filhos na guerra silenciosa, de outro, a miséria imposta pela falta de investimentos e expropriação de suas riquezas pelo regime de José Eduardo dos Sntos, o magnata do petróleo do sul. E enfim é uma guerra que provavelmente não terá vencedor, ficando do campo das guerrilhas de balas e palavras, em Tchiowa, Kinshasa e Paris.
Recentemente, a Flec sofreu a deserção do grupo de Antonio Bento Bembe, que "assinou" a paz com o governo central de Angola e se integrou às Forças Armadas de Angola, caindo no ostracismo breve. Nzita Tiago, o presidente cabindês no exílio em Paris segue sua luta e expurgou o grupo desertor. Todavia segue no exterior, e o povo ressente-se de um líder ao seu lado, nas agruras do dia-a-dia.
Chivukuvuku, deputado da Unita no Parlamento de Luanda, proferiu discurso recentemente no qual toca em duas questões-chave da questão cabindesa. De um lado, reconhece que a identidade do povo cabinda é totalmente diversa do angolano: de outro, ressalta a dubiedade do apoio dos Congos à Flec, dando a entender que estes de fato querem não a independência do enclave, mas um pretexto para se aproveitar da sua identidade comum para encampar as riquezas minerais ali situadas. Não obstante, reforça a idéia da paz possível, de uma autodeterminação que, em outras palavras, poderia ser traduzido por um Estado Livre Associado à La Porto Rico. E foca na questão da fragilidade de um povo diminuto cercado por potências ricas em cobiça.
Enfim, ainda vamos ver desdobramentos da crise cabindesa e infelizmente muitas vítimas até a solução possível do impasse. E temos as grandes irmãs do petróleo que sustentam governos e guerras mundo afora, de maneiras e modos pouco ou nada transparentes.
Será esta a sina do povo cabinda?
ver: ibinda.com
ver: flec
ver: pnn.pt
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