O que estava anunciado aconteceu: morre Benazir Butho na violência do extremismo islâmico paquistanês. Digo paquistanês pela violência política naquele país, mas o braço que atirou e se explodiu na manhã de hoje em Rawalpindi, levando ainda outras 16 vidas, certamente é só a ponta do iceberg, o pé pode estar bem longe dali, do outro lado da fronteira.
A pergunta que se faz agora é: Quem lucra com a sua morte?
A resposta é complexa. Ao voltar do auto-exílio, em aliança tácita com o ditador moribundo Musharraf, Benazir em seguida rompe com este e cai no seu desagrado. A partir dali, as ameaças contra sua pessoa se proliferam e tem sempre, segundo a própria Benazir, o dedo do ditador por trás. Mas terá sido só isso? Não seria muito amador para Musharraf matar uma pessoa tão pública e importante, assumindo o ônus e tão pouco ou escasso bônus a coletar depois?
A Al Qaeda, sempre ela, é talvez a maior beneficiária de tudo. O radicalismo e a confusão que se instala no país vira um terreno fértil para o anti-americanismo e suas teorias encontram assim maior chance de êxito. E ainda com a sorte de ter Musharraf a assumir o prejuízo moral.
O Paquistão, país fruto da divisão da grande Índia de Gandi em 1948 e depois ainda com a secessão sob a mão da mesma Índia do lado oriental Blangladesh em 1971, é um país sui-generis. Islâmico e sob proteção velada dos EEUU, tem um arsenal de dar inveja a muitos ditadores e inclusive com armas nucleares. Mas sempre com a educação islâmica fundamentalista que já fomentou as bases que se estenderam para o Afeganistão e região.
E os Estados Unidos, de longe, controlam o que podem e ficam de olho em Musharraf. É melhor um ditador com autoridade do que uma democracia fraca e sob risco de um golpe iminente. É a teoria do risco-menor. A questão é que a morte de Butho pode trazer uma onda de violência que leve a uma intervenção emergencial. Por enquanto Musharraf vai levando e fazendo o que a mão americana não quer fazer, sujar-se de sangue e desvendar a carapuça.
Mas, até quando?
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